Fechei o triângulo…não o das Bermudas (onde já passei três vezes e nenhum fenómeno esotérico me aconteceu!) mas sim o triângulo Caribenho.
Faltava ir a Cuba e …fui! Curiosidade em conhecer essa terra que tantos encantos revelou a anteriores visitantes e cujas referências me indiciavam algo de sonho. Pode até ser assim mas…
A ilha de Fidel revela, sem sombra de dúvida, algum misticismo, algo emblemático, mas que, na minha opinião, não pode ser dissociado de todo o enquadramento político-económico sob o qual vive. Seria assim tão mística se não existisse o embargo? Seria assim tão idealista se não vivesse sob o clã Castro? Despertaria tanta curiosidade sem o mediatismo? Seria tão emblemática sem a sua posição geoestratégica?
As respostas a estas e outras questões em próximos capítulos. Ou seja … já a seguir.
Quando penso em Caraíbas, dá-me sobretudo prazer pensar em duas coisas: paraíso e cultura. Era o que esperava encontrar em Cuba. Em termos de paraíso… tenho de deixar cair alguma desilusão, pois as praias, apesar de serem fantásticas, a água deliciosa… há melhor, já estive em melhor!
Quando à segunda questão… beber algo culturalmente diferente, aí sim terei de concordar que recebi sinais com piada!
Quando se habla de Cuba fala-se dos Cubanos e na sua alegria contagiante. É verdade, mas por exemplo os Dominicanos denotam ainda mais alegria e gratidão por nos ter lá. Foi o meu feeling! Onde senti, culturalmente falando, maior frisson, foi em Havana. A capital histórica, sim, respira um ambiente… místico, uma atmosfera algo luxuriante instigadora a fenómenos culturais relevantes. Foi assim com Ernest Hemingway? Respira-se algo… interessantemente estranho! Havana, património da Humanidade, é um “chorrilho” de pontos de interesse. Para cada lado que se desvia o olhar vê-se história, vê-se passado, vê-se marcas, que de forma intencional foram resistindo ao evoluir (lento) daquela sociedade.
Outro fenómeno digno de relance é a atmosfera de “orgulhosamente sós” que se sente a cada virar da esquina, em cada cruzamento, em cada parede por pintar: “51 años de Luchas y victorias” ou “hasta la victoria siempre”. O sentimento anti-americano sempre presente, muito bem relembrado pelos lanças mísseis soviéticos que se conservam (em destaque) à entrada de Havana. A este propósito, é giro aferir da nova geopolítica e o piscar de olhos ao grande vizinho do grande inimigo - Canadá. As relações privilegiadas de Cuba com o exterior fazem-se a dois níveis: Canadá e Venezuela. A primeira por interesses económicos e a segunda por interesses políticos, mas ambas por interesses geoestratégicos, de alfinetadas aos USA. A relação com o leste faz-se apenas com algumas novas repúblicas ex-socialistas, mas não de todo com a Rússia, cujo esfriamento se nota claramente. Mais para oriente as ligações à China e mais ainda à Coreia do Norte sente-me, por exemplo nos transportes de passageiros da nova geração – autocarros de “ponta” norte-coreanos, que conservam de forma orgulhosa as suas instruções na língua natal e que funcionam, sem dificuldade, à base de um combustível mal refinado, que liberta uma nuvem em tudo parecida a um vulcão Islandês. O parque automóvel, gradulamente “adulterado” conserva-se ao estilo dos “sixties” libertando uma nuvem de gases igualmente actual, digna de bloqueios aéreos!
Queda uma questão – Quando acontecer o desaparecimento do clã Castro, o que vai acontecer a Cuba? A pergunta ousei fazê-la, e a resposta foi: “para perceber verdadeiramente Cuba é preciso viver cá! Não basta vir cá visitar!”
Se calhar é verdade! Viver diariamente as limitações de um longo embargo económico, para nós ocidentais é capaz de ser complicado. Não se passa fome em Cuba. Cultiva-se o necessário para a subsistência e se a dieta pode bem não ser idêntica à nossa fornece o essencial ao corpo e à mente. Quando a comida é pouca conforta-se o corpo com um mojito, piña colada, cuba libre, daiquiri ou simplesmente rum simples! Tudo o resto é merengue e ou salsa!
Até qualquer outro dia… hasta la victoria!